PALAVRA FORA DO EIXO - CNPq

Resumo

O projeto Palavra fora do eixo tem como objetivo o mapeamento e  o estudo das manifestações e tendências da literatura e suas áreas afins que ganharam visibilidade a partir das duas última décadas, mas que ainda estão à margem da série literária. Estes fenômenos culturais apresentam grande interesse para a pesquisa , na medida em  mostram uma forte  potência interpelativa dos paradigmas modernos do século XX. Um dos pontos mais vigorosos desta interpelação é a discussão e a apresentação de novas propostas sobre a função social da literatura. Pouca bibliografia ainda existe a respeito e é importante produzir estudos aprofundados sobre esse debate bem como redesenhar alguns campos e horizontes da pesquisa na área da literatura urbana contemporânea. Alguns casos serão aprofundados como a literatura da periferia , chamada literatura marginal ou divergente e a literatura  multiplataforma em base digital. Este projeto prevê,  além de resultados do estudo como artigos e palestras, a ampliação da pesquisa–ação Laboratório Universidade das Quebradas  e a criação de produtos interativos e bookapps.

Inrodução

Este projeto pretende trabalhar duas áreas não canônicas da série literária.  No caso, a literatura emergente que vem sendo produzida nas favelas e periferias das grandes metrópoles brasileiras –  chamada de literatura marginal, periférica ou divergente -, e a literatura expandida , produzida no ambiente da web.

Essas duas linhas de pesquisa, ora de forma independente ora de forma cruzada, já foram campo de desenvolvimento de vários textos meus e de subprojetos durante esse tempo de vigência da pesquisa.

Na área editorial, criei e coordenei a coleção Tramas Urbanas (coleção com 30 livros escritos por protagonistas dos projetos culturais das periferias) , duas grandes exposições Estética da Periferia (Centro Cultural dos Correios Rio, 2004), Estética da Periferia : Diálogos Urgentes (Museu de Arte Moderna Aluizio Magalhães, Recife 2007) , esta última resultado de um estudo comparativo entre duas das maiores periferias urbanas do país , a exposição Periferia.com (Parque Lage e Biblioteca Parque de Manguinhos , 2010) resultado da pesquisa sobre a presença da cultura periférica na  internet e o grande projeto, na realidade um  laboratório de tecnologias sociais ,   Universidade das Quebradas , em colaboração com a Agência de inovação da UFRJ. O laboratório trabalha com a metodologia de pesquisa-ação , ou seja, uma experiência na qual o objeto é co-produtor da pesquisa. A Universidade das Quebradas, já em curso há seis anos, é baseada no conceito sistêmico de “ecologia de saberes”, desenvolvido por Felix Guattari e Boaventura Souza Santos. Nesse projeto procuramos , num curso de extensão da UFRJ, desenvolver uma prática de abertura epistemológica no processo da produção de conhecimento compartilhada entre pesquisadores, professores , alunos da UFRJ e artistas das periferias do RJ. (  ver www.universidadedasquebradas.pacc.ufrj.br ).  E, finalmente, o projeto Quebradas em Rede , apoio FUNARTE, uma experiência de articular cinco universidades brasileiras a saber, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Pará, Universidade. Federal da Paraíba, Universidade Federal de Goiás e Universidade do Estado de Sta. Catarina, cobrindo assim as cinco regiões do país, em  torno de pesquisas ações com a cultura de periferia desses locais cuja vigência, em 2013, nos deu elementos importantes no desenvolvimento de nossa metodologia levando em conta especificidades locais e na idéia de investir sistematicamente na força  da diferença num projeto de equidade.

Na área da Cultura Digital, outros tantos subprojetos e produtos foram desenvolvidos como a exposição Blooks, discutindo o cruzamento de blogs e books-  no Oi Futuro e no SESC  SP, Oi Cabeça e Zona Digital (seminários teóricos mensais em parceria com o Instituto Oi Futuro ver os seminários hospedados em www.zonadigital.pacc.ufrj.br ), a publicação Zona Digital, ebook que reúne a produção acadêmica sobre cultura digital, com apoio da FUNARTE, o Portal Literal um portal de literatura que desenvolve uma revista digital além os sites oficiais dos autores Ferreira Gullar, Lygia FagundesVeríssimo, em parceria com a Conspiração Filmes, que esteve no ar de 2002 a  2012, a antologia ENTER  (uma experiência sobe as possiblidades de uma literatura multiplataforma), o projeto Narrativas Transmidia , uma articulação entre literatura e games em parceria com o Centro Tecnologia e Sociedade da FGV e apoio da Petrobras ( ver www.experiênciastransmidia.com, e os livro-aplicativos Cultura em Transe: Brasil Anos 60  e Os Marginais: Brasil anos 70.

Agora, no Projeto Palavra fora do eixo, pretendo aprofundar minha experiência de reflexão e de pesquisa-ação que consolidei durante estes dez anos , focando , prioritariamente,  na emergência das novas práticas literárias no universo digital e no uso da palavra como recurso de expressão e inclusão social nas literaturas de periferia.

Para isso, vou consolidar o Laboratório da Palavra , criado em 2014, um laboratório experimental de pesquisa, criação e editoração com desenvolviment de pesquisa e reflexão crítica na área da criação literária além de cursos, oficinas, palestras, seminários e fóruns de discussão.  Ou seja, um espaço que articule todo o ecossitema que envolve a produção literária desde a criação do texto até sua chegada ao leitor seja via a crítica, livrarias , sites, ecommerce ou blibliotecas.

 

Este projeto vai dar continuidade à pesquisa metodológica e às ações da Universidade das Quebradas pensando agora em duas novas frentes: sua expansão através de articulações com outras instituições artísticas e culturais como o Museu de Arte do Rio (MAR)  e articulando suas ações de produção colaborativa de conhecimento de forma mais efetiva com a grade disciplinar da Faculdade de Letras da UFRJ.

Neste mesmo quadro, e cruzando as duas áreas eixo deste projetos – a cultura de periferia e a cultura digital – proponho a revisita e o aprofundamento da pesquisa experimental ENTER realizado em 2009.  Naquele momento, o foco do trabalho foi avaliar a intensidade da expressão literária quando migrada para diferentes  plataformas. Considerei poesia várias forma de expressão literária como o poema, o mini conto, o cordel, os quadrinhos. Exclui a forma romance em função do formato mais extenso que a narrativa épica, dramática ou descritiva exige e que, por isso, determinaria um tratamento editorial diferenciado. Após o mapeamento dos novos poetas com trabalhos hospedados na web, propus que cada um desenvolvesse uma outra forma expressiva de suporte digital que traduzisse o texto original por mim selecionado. Esse projeto resultou na antologia virtual que pode ser acessada em www.enter.com.br 

Em função da velocidade de transformação das tecnologias digitais e de seu impacto nos modelos de leitura e criação, proponho voltar à experiência do projeto ENTER I  focando nas novas perspectivas do trabalho com a palavra e suas interfaces visuais e sonoras que surgiram nestes quatro anos após a realização do projeto inicial.

É o que chamamos de Palavra Expandida, procedimento que vem sinalizando  novas perspectivas  de hibridização e começa e atenuar as fronteiras entre gêneros artísticos, sobretudo entre práticas como o design, as artes visuais, as artes sonoras e cinemáticas. A Palavra Expandida, tal como estou entendendo esse conceito aqui, constitui-se como uma forma expressiva , não identificada completamente com nenhum dos gêneros artísticos com os quais promove cruzamentos , mas que utiliza os recursos expressivos, instrumentais e metodológicos  destes mesmos campos e  gêneros artísticos. Isso pode ser observado em estado de latência já a partir da segunda metade do século XX , especialmente nas vanguardas experimentais e nas associações da literatura com o cinema, mas sem os suportes e horizontes tecnológicos que hoje dispomos. É esse novo momento que pretendo explorar nesse projeto.

Este projeto define-se também como uma pesquisa-ação na qual há um processo de criação e reflexão compartilhado entre pesquisadores e criadores.

 

Objetivos:

 ·  Estudo das práticas literárias em dois contextos não canônicos de produção na área de Letras como as comunidades de periferia e o ambiente das tecnologias digitais e eletrônicas.

 

Objetivos específicos:

 ·    Ampliar o alcance da pesquisa-ação Universidade das Quebradas, projeto de troca de saberes e práticas da palavra entre segmentos urbanos tradicionalmente desarticulados como a academia e a cultura urbana produzida nas periferias;

 ·    Prosseguir com o mapeamento e o estudo da chamada literatura marginal e suas ações como saraus, publicações e festas literárias [no caso a FLUPP (Festa Literária das UPPS) e FLIZO (Festa Literária da Zona Oeste)], ambas no Rio de Janeiro e com minha supervisão ou parceria;

 · Consolidar  expandir o Laboratório da Palavra, espaço de pesquisa , reflexão e capacitação tecnológica na Faculdade de Letras

 . Pesquisar as perspectivas e possibilidades expressivas das novas tecnologias digitais no uso literário,  através de um trabalho experimental com poetas do Rio de Janeiro;

 ·    Criar cursos de extensão que servirão como cursos piloto para a nova política extensionista da Faculdade de Letras;

·    Oferecer um curso contínuo na Pós-Graduação em Ciência da Literatura da Faculdade de Letras/UFRJ intitulado Metodologias Emergenciais.

 

JUSTIFICATIVAS

As áreas de letras e artes estão entrando numa fase em que novas dicções literárias vindas sobretudo dos até então “excluídos  do território letrado”, - aqueles escritores vindo das periferias bem como as demais tribos jovens dos centros urbanos -  vêm ganhando visibilidade,  reivindicando seus direitos à cultura e à “alta literatura”, ganhando espaço na mídia e exigindo reconhecimento sócio-cultural.

 Paralelamente o impacto tecnológico na cultura produzida nestas últimas décadas não pode mais ser ignorado. 

Como os escritores estão enfrentando a emergência de novas dicções e do universo digital? Qual o horizonte que está se delineando para a literatura? Esse é o quadro das perguntas que o novo contexto coloca para o ecossistema literário como um todo.

São estas perguntas que o Projeto Palavra Fora do Eixo pretende trazer para o campo acadêmico com a atenção e com o cuidado que os novos contextos globalizados e tecnológicos requerem. 

 No contexto atual, alguns segmentos jovens e tribos urbanas transnacionalizadas começam a constituir  importantes mercados para o livro, definindo a demanda por novos gêneros e formatos narrativos. Por sua vez, a publicação independente, facilitada pela rapidez e baixo custo que as mídias digitais proporcionam,  têm se tornado canais muito usados pelas periferias e autores que têm pouco ou nenhum acesso ao sistema literário vem proliferando e mostrando uma enorme criatividade em formas novíssimas de distribuição e divulgação de seus livros.  No que diz respeito às publicações em suporte digital, ou e-books, os números surpreendem.  Hoje, a leitura em base digital e o aumento exponencial de sua produção, podem ser aferidas pelos números crescentes deste mercado. Segundo o e-Book Global, foram vendidos 2,5 milhões de e-books no Brasil em 2017, o que equivaleria a 5,5% do mercado de livros de interesse geral.

Estas evidências trazem, como contrapartida, novas questões e caminhos para a pesquisa, ensino, criação, recepção  e circulação de livros.

 Uma segunda justificativa para este projeto é sua inserção como piloto na nova política de extensão da Faculdade de Letras. É importante registrar que hoje, pela resolução CEG nº  02/2013 está regulamentado o registro e a inclusão das atividades de extensão nos currículos dos cursos de graduação da UFRJ com a reserva mínima de dez por cento do total de créditos exigidos para a conclusão da graduação. Este projeto enquanto uma pesquisa-ação de caráter extensionista, pretende, portanto, atender  também a esta resolução criando novos cursos e metodologias de pesquisa e qualificação, para o cumprimento desta resolução.

 

METAS

•Desenvolvimento do acordo com o Museu MAR para consolidar  a ampliação do projeto Universidade das Quebradas no universe das artes.

•Organizar nova edição do curso de extensão e atividades correlatas que pode ser avaliado no site www.universidadedasquebradas.pacc.ufrj.br

•Estudo e realização de um texto sobre as perspectivas metodológicas visando uma ecologia de saberes.

•Consolidação e expansão do espaço experimental Laboratório da Palavra

•Estudo das estruturas das tecnologias de imersão, softwares para appbooks, vooks e softwares interativos para a aplicação na criação e crítica literárias.

•Mapeamento da literatura digital internacional com foco na poesia e nos recursos expressivos em base digital.

•Experimentação dos novos recursos tecnológicos como elemento significativo de expansão da significação e expressão criativa

 

METODO

A metodologia a ser aplicada no projeto terá dois eixos. O primeiro será de estudo bibliográfico e organização de fóruns de debate a)  sobre metodologias de pesquisa-ação e a) b) sobre as manifestações inovadoras nas culturas urbanas. Esta etapa implica orientação dos bolsistas para levantamento bibliográfico nacional e internacional bem como apoio nos fóruns de debate organizados durante a vigência do projeto.

 O segundo é um mapeamento  das literaturas produzidas nas periferias e no ambiente da web. Este mapeamento será feito pelos bolsistas na internet e por mim como pesquisa de no campo. Este mapeamento será a base do projeto da pesquisa-ação, objetivo deste projeto. Entendo por pesquisa-ação , a pesquisa na qual o processo de criação e reflexão é compartilhado entre pesquisadores e criadores, estabelecendo um novo ecossistema de saberes.

 

RESULTADOS ESPERADOS

Expansão e experimentação metodolópgica do laboratório de tecnologias sociais  Universidade das Quebradas;

Expansão  da area de pesquisa, criação e prdução editorial e publicação no Laboratório da Palavra

 

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