MANOBRAS RADICAIS

Apresentação

A exposição Manobras Radicais propõe um trabalho de reflexão conceitual sobre um movimento e um desvio na arte brasileira recente. São singularidades, diferenças e indiferenciação dos gêneros estabelecidas radicalmente a partir das estratégias – ou de sua ausência deliberada – de artistas mulheres.

Como se posicionam estas mulheres na arte e a partir da arte,  nos últimos dez anos? Existiria hoje uma crise das idéias sobre o feminismo, conforme se enuncia no discurso de algumas pensadoras  como Camille Paglia? As jovens produtoras de cultura brasileiras se reconhecem como feministas ou rejeitam ou subvertem essa idéia? Como experimentam na arte o poder crítico conquistado no século XX, conhecido como o Século das Mulheres?

A partir de suas próprias características, o meio cultural brasileiro sempre foi muito refratário a algumas idéias discutidas no Hemisfério Norte, do debate sobre “arte conceitual” nos anos 70 aos fóruns recentes sobre o “multiculturalismo”, a “pós-modernidade” e, até mesmo em muitos casos entre artistas-mulheres, o “feminismo”.

É precisamente nesse ponto de inflexão, que esta exposição vai indagar a direção das manobras e da força transformadora da arte produzida pelas novas gerações de mulheres hoje no Brasil.

Manobras Radicais propõe colocar em debate o modo como, nos últimos 15 anos, artistas mulheres ampliam a pauta da arte brasileira, diversificam as estratégias de abordagem de suas questões e potencializam criticamente o discurso feminista clássico dos anos 1960 a 1980.

Núcleo Histórico: No século XX, a arte brasileira foi marcada pela audácia e inovação das artistas mulheres. No início do século, Nair de Teffé foi uma das primeiras figuras transgressoras no campo das artes. No modernismo, temos a criatividade inovadora de Anita Malfatti e a síntese antropofágica de Tarsila. Na escultura, com Maria Martins, o desejo e a libido irrompem cristalinos num meio dominado pela sublimação dos escultores. No Neoconcretismo, Lygia Clark introduz um radical discurso de subjetivação da experiência artística e jogos de alteridade, enquanto Lygia Pape articulava a cultura, envolvendo com grande complexidade a razão geométrica, a filosofia do tempo e a marginalidade social. Nos anos 60, a produção de Anna Maria Maiolino justapõe instâncias autobiográficas e confessionais à condição feminina na sociedade.

Algumas das hipóteses da exposição já podem ser mencionadas e reuniriam artistas de diversas tendências.

Com Beatriz Milhazes, a história da arte ganha uma perspectiva distinta do citacionismo dos anos 80 com a quebra de hierarquia das fontes. Adriana Varejão aborda temas como o corpo colonial, o auto-retrato e o erotismos. A pintura é recuperada como forma de agenciamento da história. Rosana Paulino articula gênero e origem étnica, evidenciando a persistência do ethos colonial. Beleza e envelhecimento, está em artistas como Nazaré Pacheco e Anna Maria Maiolino. Artistas como Rosangela Rennó, Rosana Palazyan e Paula Trope constituem uma arte como jogo de alteridade frente a marginalidade e criação de diagramas de inclusão social. Marilá Dardot opera novas espessuras da linguagem. Artistas como Marcia X trabalharam a sexualidade com inusitada e,  mesmo irônica,  abertura, enquanto Ana Miguel ou Cristina Salgado ressignificam certos discursos da arte partir da utilização ácida de um universo de materiais culturalmente associados à feminilidade.

A exposição envolverá cerca de 25 artistas de pelo menos dez Unidades da Federação (entre eles: Pará, Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul).

Justificativa

A exposição Manobras Radicais vem trazer ao público o resultado conceitual de  uma extensa pesquisa que a Professora Heloisa Buarque de Hollanda vem realizando há oito anos sobre os desdobramentos, na expressão estética das novas gerações de mulheres artistas e escritoras, das conquistas políticas e culturais relativas à posição da mulher no mercado e na sociedade brasileira.

Com curadoria de Paulo Herkenhoff, esta será a primeira vez em que se discute, através de uma exposição de arte, a potente ironia crítica, o humor ácido e a indepedência radicalmente criativa da arte realizada pelas mulheres no século XXI. Uma exposição que vai oferecer um panorama instigante e inédito da arte brasileira  destes últimos  10 anos.